23 de mai. de 2012

Frustração...

"O relógio marcava onze horas e o céu estava muito escuro. Era para estar dormindo - e sei que aqueles garotos deveriam estar dormindo, mas eu estava em outro fuso horário, a mais de vinte horas de casa. Ainda não tinha me acostumado e a verdade é que eu estava muito pensativa, confusa, chateada, coisas assim.
Então resolvi bater no quarto do outro lado do corredor. Capaz de eles já estarem dormindo mas eu tinha que dar uma chance a isso. A dor era tanta, a angústia me matava por dentro que quando não recebi retorno, resolvi sentar no chão e tentar me recompor - era difícil demais. Alguns momentos tinha vontade de espancar a porta com todas as minhas forças e perguntar aos berros sobre o "assunto proibido". O empresário havia me pedido enfaticamente, eu me controlava por mim também, já que não queria chorar, mas eu só queria ouvir da boca deles o que raios estava acontecendo.
Meu celular apitou algumas vezes com mensagens de Twitter, meus amigos provavelmente já tinham acordado e agora viam a minha foto com Tomo e Koen. Algumas diziam que eu estava com muita sorte, outras me mandavam aproveitar, mas por quê se sentir feliz se aquilo nunca mais poderia ser repetido? Da forma mais literal do mundo?
Encostei a cabeça nos joelhos e solucei desesperadamente depois de desligar o celular. De repente não queria mais estar ali, nem estar acordada, nem nada; é o que acontece quando estou com a cabeça muito cheia. Normalmente imploro ao meu sub consciente para dormir.
E a porta ao meu lado se abriu.
- O que houve? - Koen se agachou perto de mim e pôs a mão gelada de ar condicionado no meu ombro queimado do passeio da tarde e olhei para ele, com os olhos muito vermelhos. - O que aconteceu?
Não respondi; apenas pulei para cima dele e o abracei bem forte. Ele não entendeu absolutamente nada, principalmente porque tinha uma louca maluca de outro país agarrada no pescoço dele, chorando copiosamente.
Koen me ajudou a levantar e me levou para dentro do quarto que dividia com Kenta, que agora roncava bem alto. Ele me sentou em sua cama desarrumada e me entregou uma garrafinha de água que estava perto de sua mala, aberta e bagunçada, no chão. Depois, agachou-se na minha frente e tocou meu joelho. Solucei algumas vezes, mas não conseguia falar nada.
- Alguém te tratou mal? Alguém te fez alguma coisa? Fala comigo, estou ficando nervoso!
- Por que isso? - consegui dizer e quando falei, foi tudo de uma vez. Koen piscou os olhos negros. - Quero dizer... é mesmo um ponto final?
Kenta se remexeu na cama, mas continuou de boca aberta.
- É uma longa estória.
- Gostaria de ouví-la, se não se importa. - funguei. - Porque você não imagina quão difícil está sendo para nós.
- Eu sei que está. Para nós também está sendo.
- Então por quê não dão um tempo e voltam depois!? O que impede!?
Koen respirou fundo e se sentou na cama, ao meu lado.
- É um monte de coisas...
- Conta pra mim. Eu não falo pra ninguém, sou altamente confiável. - ergui meus dedos e fiz continência. - Promessa de Escoteira.
Koen deu um sorriso, e me lembrei da nossa conversa mais cedo, de ensiná-los músicas escoteiras em português e de como havíamos nos divertido.
- Khunpa vai para o exército e P'Poppy vai estudar. Foi isso.
Não me dei por vencida. Koen se levantou e foi até a janela. Continuei sentada na cama. E Kenta continuou roncando, mas agora, mais baixo.
- Todos precisamos estudar. K-OTIC não iria durar para sempre.
- Vocês são é burros! - quase gritei. Kenta deu um ronco alto, fez uns bocejos e voltou a dormir. Koen me olhou confuso. - Sabia que vocês estavam conquistando o resto do mundo? Que estava crescendo o número de fãs? Hã!? Sabe como é absurdo acordar de manhã, entrar no Twitter e ver que o seu grupo predileto tá se desfazendo? Pra sempre?
Koen continuou me olhando por alguns segundos e voltou a olhar a noite pela janela. Balancei a cabeça algumas vezes e respirei fundo para tentar me controlar.
- Olha, - comecei. - me pediram pra não falar disso. Eu me controlei até agora pra não falar disso. Sei que você não quer falar disso. Mas eu precisava, entende? Estou me divertindo pra caramba aqui com vocês nas últimas vinte e quatro horas mas saber que nunca mais vou vê-los dividindo um mesmo palco pra cantar e dançar juntos acaba comigo. - e voltei a chorar. Koen deu passos largos até mim e me abraçou forte. Senti que ele também chorava um pouco, mas não me deixei levar. Desfiz o abraço, respirei fundo mais uma vez e depois de dizer 'boa noite' bem baixo, saí do quarto.
Bati a porta do meu e continuei chorando. Como tinha o quarto todo para mim, comecei a socar a cama e os travesseiros com toda a minha força. Koen bateu na porta do quarto e me chamou duas vezes, mas não tinha forças para abrir. Só pensava em chorar e bater nas almofadas, quem sabe assim a frustração iria embora.
Felizmente, como ele não é burro, descobriu que a porta estava apenas fechada e a abriu, me acudindo quando um dos travesseiros começou a se desfazer. Eu estava descabelada, suada, com a cara inchada e molhada de lágrimas.
Koen me abraçou e, dessa vez, não aguentei e agarrei sua camiseta, chorando minha vida. Ele beijou minha testa e começou a chorar também.
- Você não imagina o quanto isso me dói. - confessou. - Dói demais.
- Então não fica postando no twitter como se estivesse tudo bem porque isso preocupa ainda mais.
Então ficamos sentados no chão do quarto, chorando baixo, enquanto Kenta roncava no outro quarto, tão alto que com duas portas fechadas ainda dava para ouvir...



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